Kywza
Fideles
Júlio Américo
Aqui em Cabaceiras esquenta a cabeça
quem quer, pois seu Nino faz um chapéu de
couro arretado menino, de primeira qualidade. Num
sol quente desses de torrar o couro do diabo, um
chapéu faz milagre.
Severino Gomes de Macedo, o seu Nino,
tem 66 anos e é artesão desde os doze
anos de idade. Fabrica chapéus,
celas e arreios de couro de bode e de boi, mas tem
preferência por couro de bode, o qual diz
ser mais macio que os demais.
O artesão cabaceirense, que aprendeu o ofício
sozinho, ganha o sustento da família com
sua oficina de artesanato.
Pense num cabra da gota serena é
seu Nino. Conseguiu comprar casa, terreno e carro
fazendo chapéu de couro de bode. Eu gosto
desse trabalho, isso é minha vida, não
tenho muito, mas o que tenho foi trabalhando nesse
negócio, afirma Severino.
Quando seu Nino montou sua oficina
na cidade de Cabaceiras, haviam sete do mesmo tipo,
hoje funciona apenas a dele. O artesão lamenta
a perda dessa cultura e o desinteresse dos jovens
pelo artesanato. O pessoal novo devia aprender
também, porque quando eu morrer... Entretanto,
há quatro meses o artesão ensina seu
ofício para o jovem George de quatorze anos.
George pretende abrir, no futuro, seu próprio
negócio e permanecer na cidade.

Hoje o chapéu é o produto
mais vendido da oficina, devido a modernização
dos transportes, que diminuiu a venda e consequentemente
a fabricação dos equipamentos feitos
de couro para animais usados como transporte.
Apesar da não valorização
da cultura regional por parte da maioria dos brasileiros,
alguns ainda preferem o trabalho artesanal em objetos
de uso pessoal, a objetos industrializados. Exemplo
disto é a venda dos produtos artesanais de
seu Nino para vários lugares do Brasil e
do mundo. Até sueco tá usando o chapéu
de couro de bode. Nem todo Severino é Biu!
O artesanato é para o homem
nordestino a maior expressão de sua cultura,
além de ser uma alternativa como fonte de
renda. São poucos os lugares que preservam
essa tradição. Cabaceiras é
um desses lugares.