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  Resquícios do Auto da Compadecida
Orlando Junior

                    Em 1998, uma minissérie, idealizada pelo núcleo de Guel Arraes da TV Globo, sacudiu de forma positiva a cidade de Cabaceiras! De repente, a cidade, localizada no cariri paraibano, viu seu cotidiano ser modificado! Equipamentos de filmagens, caixas pretas, gruas, trilhos e atores globais! Selton Mello, Lima Duarte, Denise Fraga, Diogo Vilela. A cidade ficou conhecida nacionalmente e a produção televisiva deu origem a um longa metragem que por muito tempo foi o filme brasileiro mais assistido desde que Carla Camurati rodou Carlota Joaquina - A Princesa do Brasil.

         
Pois bem, cinco anos depois eis que estamos aqui para procurar resquícios de O Auto da Compadecida. Objetos que ficaram, lembranças, pessoas que participaram..saudades! A primeira lembrança, e talvez a mais especial, foi o desenho da Compadecida, feito pela equipe de produção, na igreja matriz da cidade: "O desenho da Compadecida é muito procurado por turistas, temos inclusive um projeto para restaurá-lo diz Márcia Truta Diretora do Departamento de Turismo e Comunicação da Prefeitura.

         
Outra lembrança, que também ficou, faz parte de um dos momentos mais engraçados do filme: o enterro do cachorro do personagem de Denise Fraga. Localizado no Rancho da Ema, uma das pousadas mais procuradas da região, o monumento costuma chamar a atenção dos hóspedes e dos curiosos. Além da pequena cova onde a mesma foi enterrada, a produção ergueu também uma pequena capela.

         
A lembrança dos moradores que fizeram figuração também é rica e cheia de histórias interessantes. Ratificando a afirmação do dramaturgo Dias Gomes de que a arte não muda o mundo, apenas incute nas pessoas a necessidade de mudança, encontramos dona Iraci Soares de 49 anos. Passando por momentos de profunda depressão, após a morte do marido, ela foi uma das selecionadas para fazer figuração e ficou amiga da Produtora de Elenco da Produção Paola Bellocesier.

          " A Paola foi um verdadeiro anjo em minha vida. Costumo dizer que a Compadecida se compadeceu de mim e me mandou aquele anjo", diz com lágrimas nos olhos, para em seguida completar: "Foi ela quem me tirou do abismo em que me encontrava" Até hoje a produtora da Rede Globo auxilia dona Iraci com uma ajuda de custo.

         
Seu José Nunes de 58 anos também tem história para contar, muito embora não consiga explicar os fatos de maneira clara e objetiva! Ele diz que faria o papel do Padre, caso o ator Rogério Cardoso não chegasse. "Me vestiram logo de padre, mas o Rogério chegou, acabei fazendo uma pequena figuração.


         
Não importa o tamanho do personagem ou da situação, o que realmente importa, no caso dessa produção, foi o fato de ela ter sido feita em Cabaceiras, longe de cartões postais já bem batidos como Cristo Redentor, Ópera do Arame e Avenida Paulista. A produção audiovisual brasileira precisa de novos ares e O Auto da Compadecida encontrou isso em Cabaceiras. O cinema brasileiro agradece e nós paraibanos também!

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