Orlando
Junior
Conta à história que muito antes de
Cristo, cães e gatos estavam em iminente
risco de extinção. Para reverter à
situação e salvar as espécies,
os governantes ordenaram que toda família
criasse um animal das duas espécies. Passados
milhões de anos, esses animais, além
de fazerem a alegria de várias famílias,
também são vistos como problemas sociais,
haja vista a grande quantidade que são criados
livremente, em locais públicos.
Com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
não poderia ser diferente. Atualmente, além
de comportar professores, funcionários e
alunos, a instituição viu crescer
nos últimos anos sua população
de animais domésticos, como cães,
gatos e pombos. “É preciso se diminuir
a população desses animais tendo em
vista as doenças que eles podem transmitir,
além daqui ser um ambiente que não
comporta esse tipo de animal em excesso”,
diz o Professor e Chefe do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes (CCHLA) Lúcio Flávio.
“Não podemos esquecer que o campus
universitário foi construído numa
área de Mata Atlântica, cheia de animais
silvestres e que esses gatos não vieram para
aqui porque quiseram, mas sim porque foram colocados
pela comunidade dos bairros que circundam a universidade.
O que não pode acontecer é essa matança
que aconteceu, como se a vida desses animais não
significasse nada”, rebate com revolta a funcionária
Izilda de Fátima.
A matança a que a funcionária se refere
foi a que aconteceu com os gatos que circulavam
nas imediações dos Departamentos de
Comunicação, Música e Psicologia.
A área, segundo Izilda, tinha uma média
de 30 gatos, 19 apareceram mortos. “O laudo
apontou edema pulmonar e parada cárdio-respiratória,
possivelmente decorrente de um veneno muito forte,
que está inclusive pondo em risco a fauna
da universidade. Os animais sofreram muito antes
de morrer”, completa a funcionária,
que na instituição é mais conhecida
como a “mulher dos gatos”.
“Para se comprovar com certeza com que tipo
de veneno os gatos foram infectados, é preciso
se fazer primeiro o exame bioquímico. Mas
eu suspeito que isso de fato aconteceu e pelo quadro
apresentado pelo animal necropsiado, posso suspeitar
que o veneno utilizado é um agrotóxico
muito utilizado para matar ratos”, esclarece
o Médico Veterinário Everaldo da Silva
Zacarias, que fez a necropsia de um dos felinos
mortos.
Toda a polêmica começou quando o Conselho
Técnico Administrativo (CTA) da UFPB, órgão
que congrega o Reitor, a Vice-Reitora e os Chefes
de Centros, decidiram por unanimidade entrar em
contato com o Centro de Zoonoses da Prefeitura de
João Pessoa para pedir que retirassem os
animais do campus que estavam em excesso. “Fizemos
uma reunião na Zoonoses e ficou acordado
que fariam uma campanha educativa no sentido de
adotar esses animais. Agora, como fui o único
Chefe de Centro que compareceu a reunião,
fiquei estigmatizado como aquele que quer retirar
os animais a qualquer custo, é um exagero!”,
se defende o Professor Lúcio Flávio.
Polêmicas à parte os defensores dos
felinos já estão tomando providências
e fazendo reinvidicações: “Estamos
pedindo um espaço para colocar esses gatos
e ali criá-los, já que eles estão
incomodando tanta gente. Pedimos também que
seja intensificada a segurança da instituição
para impedir que a comunidade jogue as crias de
seus animais aqui. Estamos também vacinando
todos os gatos sobreviventes e colocando neles uma
coleira. Vamos também realizar uma campanha
de adoção desses animais, o que acho
difícil pois a grande maioria é fêmea
e as pessoas só querem animais machos”,
pondera izilda de Fátima.
O caso já foi notificado a Delegacia do Meio
Ambiente e as medidas legais já estão
sendo tomadas. Lúcio Flávio também
espera uma denúncia por escrito para montar
a Comissão de Sindicância. “Eu
não concordo que os animais permaneçam
aqui, agora matar, isso eu acho um absurdo e não
vou permitir uma prática dessa”, finaliza.