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  Ongs e fundações na berlinda
Orlando Junior
       
             
Márcia Lima e Deyse Nunes são nomes fictícios de mulheres que durante anos trabalharam em duas famosas organizações não governamentais da cidade. Em comum, o fato de terem medo de se expor ao contarem todos os desmandos que presenciaram quando fizeram parte dessas instituições. “São pessoas influentes que sabem como conseguir dinheiro e prestar contas com notas fiscais compradas”, diz Deyse, que trabalhou nas duas instituições. Já Márcia, mais tímida, e hoje funcionária pública, desabafa: “Trabalhei durante 10 anos numa ong que tinha por finalidade a luta em defesa de uma classe minoritária, quando me colocaram para fora negaram todos os meus direitos e ainda fui humilhada, eles só defendem essa minoria da boca para fora”.

             Histórias como essas existem aos montes. Não é raro ver a criação de organizações, com um bonito discurso no papel, mas que servem apenas para encobrir uma prática comum: conseguir financiamento público ou privado para uso próprio. “Esqueça Papai Noel, ele não existe! Essas ongs são entidades civis ”cem” fins lucrativos, cem com c mesmo!”, ironiza Deyse. Para melhor fiscalizar essas instituições e evitar que desmandos como esses continuem ocorrendo é que foi criada na Comarca de João Pessoa, a Curadoria das Fundações e Ongs.

             “Aqui em João Pessoa, como não havia um núcleo específico para cuidar dessa atividade tão importante, foi criada essa curadoria para tratar especificamente dessas instituições, quer orientando, quer fiscalizando”, pondera o curador Alexandre Jorge do Amaral Nóbrega, para em seguida completar: “Há um interesse do Ministério Público de colaborar com essas entidades, para que, aquele objetivo que ela vem se empanhando, venha efetivamente a ser alcançado”.

             A criação especifica dessa curadoria, não veio, como muitos pensam, para apenas punir e fechar organizações que estejam funcionando de maneira irregular. “O Ministério Público não está aqui como vilão, para fechar todas as ongs e fundações existentes. Não é nossa intenção, pelo contrário, se elas prestam trabalhos relevantes em prol da coletividade, colaborando com o poder público, queremos incentiva-las para que cresçam e continuem prestando um bom serviço”, explica o curador.

             Os trabalhos da curadoria já começaram. As fundações serão as primeiras instituições a serem visitadas, depois virão as ongs. Qualquer pessoa pode denunciar supostas irregularidades que venham a ser cometidas por essas entidades, basta ir à curadoria que fica localizada na rua 13 de Maio, 691, Centro ou ligar para o fone 21076121. “Estamos de portas abertas à população que tenha informações sobre o mau funcionamento dessas instituições”, fala o Curador das Ongs e Fundações Alexandre Jorge do Amaral Nóbrega.

             Já Deyse e Márcia esperam que esse órgão fiscalizador haja com energia contra as instituições desonestas. “Muita ong vai fechar, já deve ter muita gente de cabelo em pé, perdendo noites de sono”, alfineta Deyse. Já Márcia deixa uma dúvida no ar: “Porque será que essas instituições não divulgam nos meios de comunicação seus projetos aprovados em instituições públicas e privadas? Por que não encontram espaço? Nada disso, quanto menos souberem de suas atividades melhor, a cobrança é menor”.

             “São vários projetos inacabados, é malversação de dinheiro público, é porque fulano que é dono de ong é amigo do cara que preside a entidade financiadora. Aqui as ongs não são entidades coletivas, elas têm dono, é a ong de fulano, e a ong de cicrana. Mulheres, homossexuais, negros, índios, profissionais do sexo, cultura, tem para todos os gostos, a cidade é uma festa para as ongs”, finaliza Deyse.


           
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