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  Reminiscências do CINEPORT


         O saldo do CINEPORT em João Pessoa é altamente positivo, primeiro porque trouxe a cidade produções que dificilmente encontrariam espaço nas salas comercias de exibição, segundo porque foi um espaço aberto para reflexão sobre o audiovisual feito no Brasil atualmente (mesmo que em conversas informais feitas entre uma sessão e outra), mas nem tudo foram flores e alguns exageros devem ser observados para que não voltem a acontecer nas próximas edições do festival.

         Problemas de infra estrutura devem ser melhor analisados. Filmes programados para tal dia e cancelados de última hora, sem uma explicação convincente, mostram uma desorganização amadora. Outra coisa que irritou bastante foi se programar para assistir tal filme, em tal horário e saber que esse filme foi exibido duas horas mais cedo, sem a devida divulgação necessária.

         O festival é um espaço para exibições e debates, mais o que se viu por lá foi um grande oba oba com pessoas que pareciam estar num shopping, apenas atrapalhando as pessoas que realmente queriam assistir a programação de filmes. As escolas públicas também se fizeram presentes no festival, só esqueceram de dizer aos professores que eles deveriam ter preparado os alunos para a programação proposta, já que muitos achavam que iam assistir ao último filme do Homem Aranha. Dessa forma o audiovisual, que é uma poderosa ferramenta de educação, não serve para nada!

         A produção paraibana deixou a desejar! Alguns vídeos eram de uma bizarrice tão grande que questionavam, nos presentes, pensamentos de como eles encontraram espaço num festival que aspira ser um dos melhores do país, mais que, na sua tentativa de ser diferente, empaca na falta de critérios mais transparentes em suas escolhas. Se duas vezes não se faz, duas vezes também não se assiste, esse lema poderia ser empregado em várias das produções paraibanas apresentadas. Mostras sobre piadinhas, que só serão entendidas por um grupo fechado, devem ser restritas a seus convidados, para não afugentar o grande público, que já tem o pé atrás com o cinema nacional.

         A mostra de filmes brasileiros foi à melhor do festival trazendo a cidades produções como Estomago, Chega de Saudade e O Mistério do Samba, que mostram que é possível realizar obras com qualidade sem precisar apelar para uma “pseudo intelectualidade”, que é a deixa para ser aceito nos guetos do audiovisual paraibano.

         Sobre premiação é difícil falar, afinal, quando não são os mesmos que ganham, ganha sempre aquele mais esquisito, que não é entendido por ninguém e assim vai por terra, como diria o jornalista Marcelo Soares, uma das características mais importantes do cinema que é “comunicar uma mensagem ao máximo de público possível”.

         É preciso também que os organizadores do festival tenham cuidado ao abirem suas portas para instituições culturais caça níqueis da cidade. Ceder espaço para exibições de falcatruas culturais ou destinar a renda de um dia a instituições que já são amplamente favorecidas com dinheiro público, pode criar uma certa antipatia ao festival. Se informar antes, para não se decepcionar depois, é uma dica a ser seguida. Principalmente se levarmos em conta que o festival é feito com dinheiro público, advindo de leis de incentivos fiscais.

         Que 2011 traga para nossa cidade um festival mais rico em sua programação, com menos oba oba e uma proposta mais clara, inteligente e simpática como o ator Emiliano Queiróz, que do alto de uma carreira de ator bem sucedida, mostrava sua simplicidade e simpatia, justo ele, um dos presentes mais importantes do 4 º CINEPORT, o Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa.


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