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  ... e Maria chegou aos 30

Orlando Junior e Kywza Fideles

              Ela é inteligente e hilária como poucas pessoas. De olhar maroto e traço característico é uma daquelas mulheres que destilam ironia e possuem um humor fino e corrosivo sem precisar recorrer a apelos gratuitos. Completando 30 anos, a personagem, criada por Henrique Magalhães, cresceu, se libertou, foi impressa em jornais, ganhou livros, identidade própria e descobriu Portugal, fazendo a rota contrária, algo bem característico de sua forte personalidade.

              Muito antes de o seriado Malu Mulher levantar questões feministas na televisão, essa personagem de quadrinhos, criada na Paraíba, já levantava essa bandeira. “No início ela já tinha uma certa politização, mas foi se aprofundando na medida em que eu comecei a participar do movimento estudantil, tomar mais conhecimento da realidade, então Maria também se tornou muito mais solícita, consciente e contestadora. Sua luta era contra o regime militar e pela emancipação feminina, muito embora não esquecesse a causa de minorias como homossexuais, negros e índios. Estávamos todos juntos na época, em um movimento muito forte de união", se orgulha Henrique.

              O então estudante de Comunicação Social já tinha feito algumas tirinhas com um personagem chamado Nhô Quim, mas ele queria algo mais forte e original. Procurou nos jornais uma temática pouco enfocada nas histórias em quadrinhos da época e descobriu que o universo feminino era sempre colocado em segundo plano em relação ao mundo dos heróis. "Havia em mim uma identidade com as questões femininas e feministas, no que toca a reivindicação de direitos e expressão da sensibilidade. Maria foi uma conseqüência natural desse processo de reflexão", sentencia.

              Hoje o resto é história, e como diria a personagem, daquelas boas de se contar. Maria foi lançada em tirinhas de jornais, em várias revistas de forma independente e não se acomodou, mesmo com toda a repercussão que teve. Seu traço foi mudando, se aperfeiçoando. “Maria nasceu de forma muito tosca, muito primária, ainda acho que não tenho todo o domínio do desenho, mas houve uma evolução sensível durante esses anos”. Henrique continua: “Com a publicação diária nos jornais, eu fui forçado a exercitar permanentemente e isso me levou a aperfeiçoar o traço, até chegar ao ponto de hoje ela ter uma forma mais bem concebida”.

              A intenção de Henrique é voltar a produzir os quadrinhos de “nossa” balzaquiana (que ela não nos escute), só que em forma de livros, com tiragem pequena, para um público dirigido. “Fazer Maria foi uma forma de eu me revelar ao mundo, de eu me colocar como pessoa, como indivíduo, e isso me proporcionou muitas alegrias”, finaliza Henrique Magalhães.


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