A
arte paraibana está mais triste do que nunca!
Mas como falar de tristeza, se a causa dela, é
alguém que em 48 anos de vida, só se
importou com seu próximo, fazendo de tudo para
ajudar pessoas comuns e movimentos sociais efervescentes?
O teatro, a dança, a capoeira, o movimento
negro, a poesia, a música e o carnaval tradição
jamais voltarão a ser o mesmo depois da partida
do amigo João Balula. PS: Já o imagino
dizendo que ninguém aqui é insubstituível
e que a luta continua. Calmo amigo! As pessoas podem
não ser insubstituíveis, mas são
únicas na sua caminhada!
Balula
partiu mais deixou um legado de lutas contra as
diferenças sociais que insistem em bater
em nossas portas em pleno século XXI! Sua
penúltima cena foi especial: nada de choros,
velas, nem fitas amarelas! No lugar disso música,
alegria e a certeza que navegar é preciso.
Nomes como Fernando Abath, Adeildo Vieira, Edílson
Alves, Mônica Macêdo, entre outros,
menos famosos, formaram a platéia de seu
último espetáculo! Aglutinador como
era, apesar de às vezes, exagerar nos seus
ideais, Balula deve ter ficado feliz em ter visto
católicos e umbandistas, dividindo o mesmo
espaço e, cada um a sua maneira, orando por
ele!
Nas
conversas, entre uma música e outra, entre
uma lágrima e outra que teimava em rolar,
uma pergunta rolava entre as pessoas de forma branda
e saudosa: afinal a que arte Balula pertencia: “Vi
Balula pela primeira vez recitando poesia”,
diz o capoeirista Dário Palmares. “Eu
conheci Balula no teatro”, fala a educadora,
atriz e jornalista Maria de Amparo. Outros falam
que o viram dançando e outros tantos que
só se lembram dele em discussões acaloradas
sobre o movimento negro ou sobre o carnaval tradição
da cidade que ajudou a reerguer! Não importa
em que arte ele fazia sua melhor performance, Balula
era de todas as artes e ainda tinha uma preocupação
social e uma visão de mundo que poucas pessoas
possuem.
Uma
de nossas últimas conversas aconteceu na
Funjope, fundação que ajudou a criar,
por ocasião do projeto Dança na Rua,
que coordenava. Sincero e honesto como sempre ele
afirmou que o projeto não ia bem de público,
e que mudanças seriam realizadas! Esse era
Balula, que não tinha medo de assumir erros,
responsabilidades e lutas, da quais só desistia
quando já tivesse ganho a batalha, mesmo
que seu oponente nem se desse conta disso.
Sua
cena final foi digna de João Balula: no alto
do carro de bombeiros ele passeou pela última
vez na cidade, até chegar ao bairro do José
Américo, local onde a cortina foi abaixada
e as palmas ecoarem livres, rompendo muros, casas,
campos, espaços livres. Daqui, de onde estamos,
tentando fazer algo que corresponda a sua importância,
lembramos e agradecemos pela aquela apresentação
na Festa da Barão, lembra? Foi a partir dali
que o caminho adquiriu um novo rumo, rumo esse que
ainda hoje estamos percorrendo.
Axé
Balula! Revoluciona esse andar de cima, que logo
todos nós vamos está dando gargalhadas
e comentado seu último espetáculo
aqui na terra. Você foi notícia, foi
capa de jornal e, quem sabe, no futuro não
será tema de alguma dissertação
que tente explicar quem foi esse furacão
que passou pela terra e deixou um rastro de talento,
lealdade e dignidade.