Se
o ano de 2006 ficou marcado pela perda da Copa do
Mundo de Futebol, o mesmo estigma pode ser aplicado
ao cinema brasileiro. Num ano em que nosso cinema
lançou 67 filmes, bem melhor que 2005 quando
foram lançados apenas 41, o público
ficou bem aquém do esperado e o que se viu
de concreto foi uma queda de 7% na bilheteria do
cinema nacional que vem caindo ano a ano desde 2003,
o melhor, desde que se teve início a chamada
retomada do cinema brasileiro.
O Brasil acompanha a tendência de baixa dos
Estados Unidos, o maior mercado cinematográfico
do mundo. Há ainda a crescente preferência
pelo entretenimento em casa, a pouca oferta de "blockbusters"
(filmes pipocas de puro entretenimento) e a pirataria.
Se o número de ingressos vendidos para o
cinema nacional caiu, o mesmo pode-se dizer do número
total de ingressos vendidos. Ano passado foram vendidas
pouco mais de 91 milhões de ingressos, umas
quedas de 4,9% com relação ao ano
anterior.
Nem a Cota de Tela (uma reserva de mercado decretada
pelo Governo Federal que obriga os exibidores a
destinarem uma certa quantidade de dias para exibição
de filmes nacionais) surtiu o efeito desejado. No
ano passado, cada cinema deveria exibir longas-metragens
brasileiros por pelo menos 35 dias do ano. Poderia
haver variação nesse número,
de acordo com a quantidade de salas do local. Em
um multiplex com oito salas, por exemplo, o período
de reserva mínimo do local é de 448
dias, com a exibição de oito títulos
nacionais diferentes.
O Site Escrita Livre monitorou pelo oitavo ano consecutivo
as salas de exibição das capitais
do Nordeste, para ver se elas cumpriram o decreto,
e o resultado mostra que a única capital
que não cumpriu com a Cota foi exatamente
João Pessoa! Se no ano passado a capital
paraibana foi a que teve melhor desempenho com relação
ao ano de 2004, em 2006 os dois grupos que controlam
as empresas locais, não conseguiram cumprir
com sua obrigação.
Mesmo assim, João Pessoa, empatada com Aracaju
e Fortaleza, foi a quarta capital do Nordeste que
mais exibiu filmes brasileiros com 298 dias, uma
queda de 0,99% com relação a 2005.
Recife foi a capital que mais exibiu filmes com
358 dias, um aumento de 2,87%. A surpresa foi São
Luís que foi a capital que apresentou o maior
crescimento com relação ao ano anterior.
A capital maranhense teve um crescimento de 6,05%
e abocanhou o terceiro lugar em números de
dias de exibição com 333. A maior
queda foi Fortaleza que apresentou uma queda de
9,14%, dedicando ao cinema nacional apenas 298 dias,
quando sua média em 2005 foi de 328. A capital
nordestina que menos exibe cinema nacional continua
sendo Maceió que exibiu apenas 218 dias de
cinema brasileiro, e apresentou uma queda de 8,78%.
Dos 67 filmes lançados no Brasil, 36 passaram
nos cinemas do Nordeste e desses, apenas 19 chegaram
aos cinemas de João Pessoa, ou seja, as exibições
continuam restritas ao eixo Rio-São Paulo,
muito embora, no ano passado, a cidade tenha tido
entre os meses de julho a agosto a exibição
simultânea de quatro filmes nacionais, algo
inédito na cidade. O filme brasileiro mais
assistido foi à comédia Se Eu Fosse
Você, dirigida por Daniel Filho, que atraiu
aos cinemas mais de três milhões de
espectadores e foi também o filme que mais
ficou em exibição em João Pessoa
por 96 dias, quebrando o recorde anterior que pertencia
ao filme Cidade de Deus, que em 2003 ficou em cartaz
por 91 dias.
Se em 2006 tivemos 67 títulos nacionais e
poucos obtiveram um bom resultado (cerca de 80%
tiveram menos de 100 mil espectadores) 2007 promete
ser um ano melhor. Entre os títulos nacionais
A Grande Família já é uma realidade.
Antônia, esperado com grande expectativa,
naufragou na bilheteria. A comédia Caixa
Dois, ainda sem data de estréia definida,
também pode animar o público a sair
de casa. Outra grande expectativa é Cidade
dos Homens, longa baseado na série de TV,
por sua vez "cria" de Cidade de Deus.
Todos esses filmes vão buscar o público
das classes C e D, o que é fundamental para
ter sucesso. O Magnata, empreitada de Chorão
(Charlie Brown Jr.) no cinema, também vai
atrás desses espectadores, com foco centrado
nos jovens. O Passado, de Hector Babenco, Saneamento
Básico, de Jorge Furtado, Primo Basílio,
de Daniel Filho, e Não por Acaso, de Philippe
Barcinski, também não devem fazer
feio na caixa registradora das salas de cinema.
É esperar para ver!